sexta-feira, 17 de junho de 2011

Pontuação – Emprego da vírgula



Quando falamos, temos a nossa disposição recursos extralinguísticos que nos ajudam a expressar adequadamente o que queremos comunicar. Esses recursos são gestos, sons, expressões faciais, entonação da voz, pausas, enfim, todos os elementos que constituem uma situação de comunicação. Ao escrever, tentamos reproduzir aquilo que queremos comunicar por meio de um código composto por um alfabeto, que nos oferece os elementos para formamos as frases, orações e períodos, e pelos sinais de pontuação, que nos ajudam a tornar o texto mais claro para o leitor, levando-o a entender o que queremos transmitir.

Entre os vários sinais de pontuação de que dispomos em nosso sistema de escrita, o que provoca maior confusão é a vírgula. É comum termos uma ideia equivocada do uso da vírgula. Ao contrário do que se pensa normalmente, a vírgula está relacionada à estrutura sintática do que às famosas “pausas” na fala.



Emprega-se vírgula

Quando uma expressão, frase ou palavra “quebrar” uma sequência sintática.

Eu observo as coisas com dois olhos que, embora castanhos e mesmo tirantes verdes, veem este mundo com bastante clareza.

Para separar termos da mesma função sintática (sujeito composto, complementos, adjuntos) se eles não vierem ligados por e, nem, ou.

Toda a tristeza, toda a mediocridade, toda a feiura duma vida estreita onde o mau gosto atroz e pretensioso da classe média se juntava à minuciosa ganância comercial. / Estavam lutando apenas contra as baratas, as horríveis baratas do velho sobradão.

Para separar aposto explicativo.

Rubem Vargas, grande cronista brasileiro, foi embaixador no Marrocos.



Assim, não separamos por vírgula sujeito e predicado e o verbo e seus complementos (objeto direto, objeto indireto), por exemplo. Por outro lado, separamos expressões que representam uma “quebra” sintática, alterando a ordem direta [sujeito – verbo – objeto (s)]. Algumas vezes a vírgula é opcional. Como decidir então se usamos ou não? A clareza é o fato que mais conta nesses casos. É preciso verificar se o texto está claro, se não há ambiguidades e se transmite ao leitor a mensagem pretendida.

Veja alguns exemplos que podem ajudá-lo (a) a escrever melhor e com mais clareza.



Não se separam por vírgula

Sujeito e predicado

Então um grande carro conversível se deteve um instante perto de dois.

Verbo e seus complementos

Ele teve um ímpeto.

/ Ele entregou as chaves à mulher.





Emprega-se vírgula (continuação)

Para ser vocativo.

Moço, pare o ônibus!

Para separar expressões explicativas (por exemplo, sem dúvida, com certeza, ou melhor, isto é, aliás, ou seja etc.).

As mulheres, ou melhor, algumas delas têm medo de baratas.

Para separar as conjunções coordenativas mas, porém, contudo, no entanto, entretanto, todavia, logo, portanto, por conseguinte, então, quando elas vierem intercaladas.

Esperavam há muito tempo; o bonde, contudo, não chegava.

Para separar orações com sujeitos distintos ligadas pela conjunção e.

Ela tinha dor de cabeça, e ele sentia dor de dente.

Se a conjunção e tiver valor adversativo, embora o sujeito seja o mesmo, a vírgula antes da conjunção é necessária.

O casal discute, e continua unido.

Para separar as orações coordenadas sindéticas e assindéticas, exceto as introduzidas pela conjunção e.

Enlaçou-a pela cintura, depois ficou segurando seu ombro com um gesto de ternura protetora, disse-lhe vagas meiguices, ela apenas ficou quieta. / Veio um bonde, mas estava tão cheio...

Orações subordinadas adjetivas – As explicativas são sempre separadas por vírgula; as restritivas nunca são separadas por vírgula.

O texto foi escrito por Rubem Braga, que é um dos maiores cronistas brasileiros. Rubem Braga conseguia enxergar detalhes do cotidiano que muitas vezes passam despercebidos.

Orações Subordinadas substantivas – Com exceção das orações subordinadas apositivas, elas não podem ser separadas por vírgula.

Só queria uma coisa, ler a crônica sossegada.

Orações subordinadas adverbiais – São separadas por vírgulas quando estiverem antepostas ou intercaladas à oração principal. (Observação – 1. Se estiverem depois da oração principal, a vírgula é opcional; 2. Se forem reduzidas, a vírgula é obrigatória.)

Sempre que necessário, Braga emite juízos ponderados sobre fatos políticos, econômicos, sociais. / Braga, sempre que necessário, emite juízos ponderados sobre fatos políticos, econômicos, sociais.

Para separar predicativo do sujeito deslocado, quando o verbo não for de ligação.

Esperavam, desanimados, o bonde.

Para indicar a elipse de um verbo, isto é, a omissão de um verbo já citado antes.

O marido detestava as pulgas; a mulher, as baratas.



A vírgula é opcional

Para separar os adjuntos adverbiais muito extensos ou para destacá-los.

Quem via essas coisas, sem a névoa passional que perturbava tanta gente, era um mocinho de 19 anos. / Quem via essas sem a névoa passional que perturbava tanta gente era um mocinho de 19 anos.

A vírgula é optativa se o adjunto adverbial não for oracional, ainda que esteja deslocado. Porém, se a preposição do adjunto adverbial vier do termo anterior a ele, não se usa vírgula (Ex.: Chegaram à pensão).

Fazia no jornal Estado de Minas uma coluna de leitura obrigatória. / Fazia, no jornal Estado de Minas, uma coluna de leitura obrigatória. / No jornal Estado de Minas, fazia uma coluna de leitura obrigatória.

A vírgula é obrigatória se o adjunto adverbial for oracional, quando estiver deslocado. Se não estiver deslocado, a vírgula é optativa e servirá apenas para dar destaque ao adjunto adverbial.

Se o bonde chegasse, a dor melhoraria.

A dor melhoraria se o bonde chegasse. /

A dor melhoraria, se o bonde chegasse.



Fonte:



Apostila COC. Editora COC. Ribeirão Preto, 2010.



GRANATIC, Branca. Técnicas Básicas de Redação. Nova Edição.

Editora Scipione. São Paulo. 1995.



HOUAISS, Antônio e Villar, Mauro de Salles. Minidicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 3°. ed. Rio de Janeiro. Objetiva, 2009.

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